Tecnologia usada em Fortnite ajuda pessoas com paralisia a ‘falarem’ via IA
Fonte: techtudo.com.br / Publicado em: 26/08/2023 / Por Rafael Monteiro, para o TechTudo
Estudo de universidades americanas demonstra tecnologia que usa inteligência artificial para interpretar sinais de fala do cérebro e reproduzi-las em um avatar digital
Um estudo das Universidades de São Francisco e Berkeley, nos Estados Unidos, em parceria com o software de games Speech Graphics, demonstrou uma tecnologia capaz de ajudar pessoas com paralisia a voltarem a falar. O dispositivo usa eletrodos conectados ao cérebro da paciente que decodificam sinais por uma inteligência artificial e reproduzem palavras por meio de um avatar.
A imagem criada pela Speech Graphics usa a tecnologia por trás de títulos como Fortnite, The Last of Us, The Callisto Protocol, entre outros, e permite expressar algumas emoções. Por enquanto, o estudo é apenas um teste, mas os pesquisadores acreditam que poderá ser usado para ajudar na comunicação de pacientes em breve.
A pesquisa publicada em 23 de agosto na revista científica Nature mostrou o caso de uma paciente de 47 anos chamada Ann, que perdeu a fala após um AVC há 18 anos. Uma malha fina com 253 eletrodos foi implantada próxima à área do cérebro responsável pela fala da paciente e o dispositivo captava os sinais para enviar a um computador. O aparelho continha um algoritmo de inteligência artificial treinado com vocabulário de até 1.024 palavras. Quando Ann pensava nas frases, o avatar digital as reproduzia com uma voz criada a partir de gravações antigas anteriores ao AVC.
O software foi capaz de produzir 78 palavras por minuto com uma média de erro de 25,5%, índice melhor que o de outras interfaces anteriores. Para fins de comparação, uma conversa normal costuma contar com 160 palavras nesse mesmo tempo. Ann comentou com os pesquisadores que o simples fato de ouvir uma voz semelhante à sua era emocionante. O avatar digital da Speech Graphics reproduziu também alguns músculos faciais da paciente para expressar emoções junto com suas frases.
Ainda no dia 23, outro estudo sobre o mesmo assunto foi publicado pela Universidade de Stanford dos Estados Unidos. O artigo apresenta uma paciente chamada Pat Bennett, de 67 anos, que tem doença do neurônio motor, ou esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma condição que causa perda do controle muscular e dificuldades para se movimentar e falar.
Nessa pesquisa, a interface foi treinada com um vocabulário maior de 125 mil palavras e outro menor de 50 palavras. Esta versão de tecnologia gerava 62 palavras por minuto com uma taxa erro de 9,1% no vocabulário menor e 23,8% no maior. Porém, o método utiliza implantes de silicone mais invasivos que no caso de Ann, onde foi usada eletrocorticografia.
Ambos os estudos demonstraram tecnologias mais rápidas e precisas que as já existentes. O neurocientista Francis Willett, coautor no artigo de Stanford, comentou que já é possível imaginar um futuro no qual conversas com pessoas como paralisia sejam mais fluídas, precisas e compreensíveis. Já o neurocientista computacional da Universidade de Maastricht, na Holanda, Christian Herff, acredita que os dispositivos poderão se tornar produtos reais em um nos próximos anos.
Foto: Reprodução/Nature, Noah Berger
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